Gurgel: A primeira fábrica de carros totalmente brasileira

O Brasil é um país excelente para montadoras de carros, pela logística fácil de materiais e pela redução de custos. Porém quase todas as montadoras que o Brasil possuía não eram genuinamente brasileiras e João Augusto Amaral Gurgel estava disposto a fazer isso acontecer.

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Começo do sonho

João era sem dúvidas um bom empresário, ele havia se formado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e se pós-graduado nos Estados Unidos onde trabalhou para grandes empresas como a General Motors e a Buick Motor.

Seu sucesso de empreendedorismo, começa em 1958, quando João cria a Moplast Moldagem de Plástico e começa a desenvolver projetos próprios, tornando-se fornecedor de luminosos para várias empresas brasileiras.

A ideia só começa a se desenhar verdadeiramente em 1964 quando João abre a Macan Indústria e Comércio Ltda e começa a fazer revendas de itens da Volkswagen, assim como também criava carros pequenos para crianças, karts e transportadores industriais para movimentação de cargas em aeroportos.

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Surgimento e crescimento da Gurgel Motores

No ano de 1969, João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, cria a Gurgel Motores para finalmente realizar o seu sonho na cidade de Rio Claro (SP) criando o primeiro modelo da Gurgel que seria chamado de Ipanema. O Ipanema era um buggy-utilitário montado sobre um chassi da Volkswagen usando também o motor traseiro da mesma, ele era composto de: capota de lona, plástico reforçado e fibra de vidro.

O primeiro carro foi basicamente um sucesso, isso por causa da capacidade do carro fora da estrada, pela sua acessibilidade João percebeu que até mesmo os carros da Jeep que dominavam os campos começaram a ser substituídos pela Gurgel. Rapidamente Gurgel já sabia em que mercado de carros atuar e então começou a focar exatamente nos campos/estradas assim como a Jeep faz atualmente.

Xavante XTC [Foto: Clube Gurgel]

O sucesso alto do Ipanema demandou carros menos improvisados e cada vez mais originais, dai surge o Xavante XT em 1972 com uma ideia inovadora, João havia patenteado um material chamado Plasteel (união de plástico com aço) e embutido isso em seus carros.

Com carros utilizando esse material inovador, a durabilidade e força do Xavante XT era tão alta que o exército brasileiro chegou a comprar vários lotes desses carros, sendo alguns utilizados até hoje.

Gurgel X12 [Foto: Clube Gurgel]

Existiram também mais versões do Xavante, sendo a que popularizou ainda mais a marca, conhecida como Xavante X-12, que também era um jipe utilizando o plasteel porém nessa versão o foco era mais o público civil e não militar, portanto, havia mais design e um foco maior em espaço.

Itaipu E150 [Foto: Marcelo Bezerra Cavalcanti]

Gurgel percebeu que tinha uma blindagem alta no seu mercado atuante, isso porque os carros estrangeiros mesmo com tração 4×4 e com um desempenho melhor que o da Gurgel, perdiam em preço e manutenção. Isso fez com que Gurgel disparasse ainda mais para novos caminhos, dentre eles algo surreal, o primeiro carro elétrico brasileiro chamado Itaipu E150 que por incrível que pareça não foi o cargo chefe da Gurgel.

Tendo como principal cliente o exército, a Gurgel criou outra versão do Xavante, o Xavante X12 TR ainda com o chassi Plasteel prometendo ainda mais rigidez estrutural e durabilidade.

X15 usado tanto para uso civil quanto também pelas forças militares [Foto: Clube Gurgel]

Nos anos de 1977 e 1978, Gurgel já exportava veículos especiais para fora do Brasil, se tornando o primeiro maior exportador da categoria e o segundo em produção e faturamento. O Xavante X12 ficou como o principal produto da Gurgel que ainda aprimorou a linha, criando furgões chamados de X15, também bem recepcionados pelo exército.

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Veículos Elétricos (1980)

Itaipu E400

Em 24 de junho de 1980 a Gurgel lançava sua pedra fundamental da fábrica de veículos elétricos (um novo prédio na mesma fábrica de Rio Claro). O projeto desses veículos iniciou-se com o TU (apenas um veículo de demonstração, sem motor). A seguir, a marca lançava (em 1981), de fato, um veículo elétrico em série: o Itaipu E150. Logo depois aparecia o monovolume E400, que fora vendido para companhias estatais. Entretanto, os modelos não vingaram por terem alto custo das baterias e autonomia pequena; logo a Gurgel descontinuou a produção de seus veículos elétricos.

Os cerca de 4 mil carros exportados para os mais de 40 países fizeram a empresa se tornar multinacional. Mas João Gurgel adorava dizer que sua marca não era multinacional, e sim “muitonacional”, pois o capital era 100% brasileiro.

Além dos carros elétricos, Gurgel também continuou aprimorando Jipes, como o Carajás que foi o primeiro com motor dianteiro e várias outras versões do cargo líder da marca, que seriam: X12 TR, X12 RM, X12 M, X15 TR, G15L (Usada como utilitário pelo exército e até bombeiros) e o XEF (o primeiro minicarro da marca).

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O Carro Econômico Nacional

Um dos sonhos de Gurgel além de montar o carro no Brasil, era deixar ele muito acessível pensando nisso ele criou o BR-800, em sua fase de protótipo de chamado CENA (Carro Econômico Nacional) sendo lançado oficialmente em 1998. O lançamento foi bastante patriótico, pois ocorreu exatamente em 7 de setembro e o nome do seu projeto novamente fazia referência a algo bem brasileiro, no caso o Ayrton Senna.

O BR-800 deveria ter o preço final de 3.000 U$ porém isso não aconteceu de fato, ele acabou saindo por cerca de 7.000 U$ mesmo com incentivos fiscais.

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O começo da queda (1990)

Com o governo de Collor, começaram várias manobras fiscais governamentais e algumas outras coisas que foram fazendo a  empresa ceder ao longo do tempo:

• Collor decide isentar carros com motor abaixo de 1.0 litro de pagar IPI, atraindo carros de outras montadoras que chegaram a fazer carros ainda mais baratos que o BR-800 trazendo mais sofisticação e tecnologia importada.

• A queda do Muro de Berlim foi um marco que também prejudicou o brasileiro pois isolou o Brasil do restante do planeta e só quando ele caiu que foram liberadas as importações de automóveis (Gurgel usava muitos materiais da Alemanha em suas fabricações).

• Na tentativa de manter a companhia ainda funcionando, ele opta por fazer outro lançamento, o Supermini em 1992 com um desenho mais moderno e mais bem acabado para poder realmente competir com as marcas estrangeiras, basicamente substituindo os BR-800 que foram comprados pelos seus consumidores, compensando atrasos de entrega que já ocorriam.

• O projeto Delta decreta o fim da Gurgel, esse seria mais um carro popular de baixo custo mas que não chegou a ser fabricado (ficando apenas como protótipo), na época Ciro Gomes e Luiz Antônio Fleury não honraram um compromisso de apoio irrestrito ao projeto Delta que dependia fortemente disso para poder instalar uma fábrica em Fortaleza para fazer a parte motriz dos veículos junto com as carrocerias (feitas em Rio claro – sede da empresa).

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Falência 

Fábrica da Gurgel

Ainda na tentativa de não deixar a empresa quebrar, foi feito um empréstimo de U$ 20 milhões para manter a produção da fábrica, mas o governo recusou e João teve que decretar falência. A empresa recorreu e continuou sua produção até 1996, produzindo 130 veículos nesse período e ainda fazendo lançamentos como: Supermini, Motomachine e Carajás.

Porém não teve jeito, a empresa faliu e deixou dívidas de R$ 280 milhões e ainda teve uma de suas fábricas que seria vendida ou até poderiam ter preservado os carros nacionais, completamente depredada.

O sonho de continuar fazendo carros nacionais acabou em 2001 pelo fato de João já estar debilitado com mal de Alzheimer e em 2009 ele acaba morrendo em sua casa no Rio Claro com 82 anos. Infelizmente o Brasil perdeu a oportunidade de produzir carros nacionais baratos e também a oportunidade de contemplar toda história da Gurgel que basicamente foi esquecida.

Após a morte de Gurgel, Paulo Emílio Freire adquiriu os direitos de uso da marca por R$ 850 no INPI, devido a expiração dela em 2003, porém a família recorreu na justiça e ainda sim, acabou perdendo os direitos da marca. Paulo tentou avançar com o X12 porém não obteve sucesso, atualmente a marca atua com um tipo de triciclo chinês para carregar cargas pesadas nos campos brasileiros e também um tipo de empilhadeira.

A matéria acabou mas muita calma nessa hora!

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